Sunday, April 28, 2019

O conceito do Círculo de Competência





“Eu não sou um gênio. Em sou esperto em algumas áreas—e eu me mantenho nessas áreas.” — Tom Watson Sr., Fundador da IBM

No início dos anos 90 um sujeito chamado Paulo Roberto de Andrade achou que seria uma boa idéia transformar o processo de engorda de bois em um produto financeiro. A promessa era de rentabilidades acima de 40% em 18 meses e portanto não faltou gente vendendo o produto no mercado. A propaganda era boa! Quando o Antonio Fagundes não estava fazendo o Bruno Mezenga na novela, ele estava recomendando o investimento nos comerciais. Que a novela se chamasse Rei do Gado tornava tudo ainda mais mágico. E que o processo normal de engorda de bois rendesse, historicamente, algo como 10% em 18 meses era um detalhe de pouca significância. Afinal, todo mundo conhecia alguém ficando rico com o esquema das Fazendas Reunidas Boi Gordo. Advogados, médicos, engenheiros e todo o tipo de gente que nunca viu um boi na vida, correram para investir e ver suas economias de vida se multiplicando. No final, 30 mil investidores perderam quase 4 bilhões de reais naquela que é uma das maiores pirâmides financeiras da história do país.

Existem algumas razões pelas quais uma pessoa cai nesse tipo de armadilha e uma delas é o tema desse post: ignorar seu círculo de competência! Círculo de competência é a área que corresponde aos seus conhecimentos, habilidades e expertise. Em outras palavras, círculo de competência é aquilo que você sabe! Enquanto os números fantasiosos das Fazendas Reunidas Boi Gordo saltariam a vista de um pecuarista, eles não seriam tão óbvios para um dentista.  No entanto, o dentista teria grande vantagem ao avaliar uma empresa como a Odontoprev.

Toda vez que o investidor se aventura no desconhecido, ele está saindo do seu círculo de competência. Pode ser ótimo em caráter exploratório mas é potencialmente devastador para o investidor. Em sua carta de 1996, Warren Buffett escreveu o seguinte:

“O que o investidor precisa é da habilidade de avaliar corretamente determinados negócios. Atenção na palavra “determinados”: Você não precisa ser um especialista em todas as empresas, nem mesmo em muitas. Você só precisa ser capaz de avaliar as empresas no seu círculo de competência. O tamanho desse círculo não é muito importante; conhecer o seu limite, no entanto, é vital”

Buffett se manteve fiel ao seu príncipio mesmo diante das pesadas críticas sofridas no fim da década de 90. Alegando não entender de empresas de tecnologia, Buffett se recusou a participar do boom das empresas de internet. A medida que os preços das empresas de tecnologia iam subindo em disparada, os resultados de inúmeros gestores também iam subindo e, consequentemente, a performance de Buffett ia ficando pra trás. Dizer que Buffett estava obsoleto e acabado tinha virado tema comum. Até que explodiu a bolha do Dotcom e Buffett renasceu das cinzas.

O fato é que Buffett nunca disse que as empresas de tecnologia eram ruins. Ele apenas soube reconhecer sua limitação em avalia-las, o que é bem diferente. E entender as próprias limitações é uma qualidade importante na vida do investidor. Alguém poderia dizer que por se manter em seu círculo de competência Buffett também deixou de ganhar muito dinheiro. Como, por exemplo, ao se recusar a investir na Microsoft apesar de ser amigo pessoal de Bill Gates há decadas. Sobre isso, Buffett é bem claro:

Os erros são cometidos quando existem negócios que você entende e que são atraentes e você não faz nada em relação a isso. Eu não dou a mínima para situações que aparecem como quando eu conheci Bill Gates e não comprei Microsoft.”

A mensagem de Buffett é direta: em seu processo de investimento não cabem negócios que ele não entende. Não importa se o negócio é indicado pelo dono, se é promovido por publicitários, se é a última moda ou se muita gente está ganhando dinheiro com ele: sem um entendimento não há investimento. Por que ele faz isso? Porque as chances de se cometer um erro são maiores quando se sai do seu círculo de competência.

Qualquer pessoa de bom senso há de concordar que é mais fácil perder dinheiro em um negócio que se conhece pouco do que em um negócio que se conhece muito. Então por que alguém iria se expor a investir fora do seu círculo de competência? Basicamente por modelos mentais disfuncionais. Alguns dos mais comuns são:

  1. Tendência de superestimar as próprias habilidades. Acontece quando o investidor acredita que seu círculo de competência é maior do que realmente é, fato muito corriqueiro entre pessoas extremamente inteligentes. Essa é a razão pela qual Buffett mencionou que conhecer os limites do seu círculo de competência é vital.
  2. Inveja ou, em outras palavras, não querer ficar pra trás do vizinho. O investidor deveria ocupar seu tempo em desenvolver seu processo e ir dormir cada dia um pouco melhor do que quando acordou. A corrida que o investidor deve travar é sempre contra ele mesmo. Na prática, contudo, não é assim que acontece. Investidores costumam ter natureza competitiva e por isso nutrem obsessão pelo desempenho dos seus pares. E quando todos os seus pares estão ganhando dinheiro com o desconhecido, a tentação é grande de segui-los.
  3. Tendência a hiperatividade. Incapazes de encontrar oportunidades dentro do círculo de competência, investidores se vêem na necessidade de navegar em mares desconhecidos. A melhor solução nesses casos é simplesmente não fazer nada. Como disse Pascal, “a maior parte dos problemas do homem decorre da sua incapacidade de ficar sozinho e quieto em um quarto.”

A boa notícia é que é possível expandir seu círculo de competência. Como todo processo que é bem feito, exige dedicação, tempo e paciência. Ninguém vira especialista em uma nova indústria do dia pra noite. Mas aos poucos é possível construir uma nova base de conhecimento. Por isso a vida do investidor deve ser o de constante aprendizado. E é por isso que o investidor que vive uma vida de estudos amplia cada vez mais a sua vantagem com o passar dos anos. Essa é a verdadeira vantagem da experiência. A experiência que vem da velhice, sem um refinamento do processo de investimento, não significa nada. Não importa o quão bem sucedido você já é, sempre existe alguma coisa pra aprender. As vezes é um ativo, uma indústria, um tipo de gestor ou um novo país.

Resumindo, o que fica desse post é o seguinte:

  1. Seja honesto consigo mesmo e defina o seu círculo de competência
  2. Opere apenas dentro dos limites do seu círculo de competência
  3. Trabalhe para ampliar o seu círculo de competência ao longo do tempo


Esse blog, assim como meu novo twitter, é pra mim uma oportunidade de expandir meu círculo de competência. Com eles eu sigo aprendendo com grandes pessoas um pouco mais sobre as indústrias e empresas brasileiras. Espero que também possa ajudá-lo(a).

Stay cool,
Don Black

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