“Eu não sou um gênio. Em sou esperto em algumas
áreas—e eu me mantenho nessas áreas.” — Tom Watson Sr., Fundador da IBM
No início
dos anos 90 um sujeito chamado Paulo Roberto de Andrade achou que seria uma boa
idéia transformar o processo de engorda de bois em um produto financeiro. A
promessa era de rentabilidades acima de 40% em 18 meses e portanto não faltou
gente vendendo o produto no mercado. A propaganda era boa! Quando o Antonio
Fagundes não estava fazendo o Bruno Mezenga na novela, ele estava recomendando
o investimento nos comerciais. Que a novela se chamasse Rei do Gado tornava
tudo ainda mais mágico. E que o processo normal de engorda de bois rendesse,
historicamente, algo como 10% em 18 meses era um detalhe de pouca
significância. Afinal, todo mundo conhecia alguém ficando rico com o esquema das Fazendas Reunidas Boi Gordo. Advogados, médicos, engenheiros e todo o tipo de
gente que nunca viu um boi na vida, correram para investir e ver suas economias
de vida se multiplicando. No final, 30 mil investidores perderam quase 4
bilhões de reais naquela que é uma das maiores pirâmides financeiras da
história do país.
Existem
algumas razões pelas quais uma pessoa cai nesse tipo de armadilha e uma delas é
o tema desse post: ignorar seu círculo de competência! Círculo de competência é a área que corresponde aos seus
conhecimentos, habilidades e expertise. Em outras palavras, círculo de
competência é aquilo que você sabe! Enquanto os números fantasiosos das
Fazendas Reunidas Boi Gordo saltariam a vista de um pecuarista, eles não seriam
tão óbvios para um dentista. No entanto,
o dentista teria grande vantagem ao avaliar uma empresa como a Odontoprev.
Toda vez
que o investidor se aventura no desconhecido, ele está saindo do seu círculo de
competência. Pode ser ótimo em caráter exploratório mas é potencialmente
devastador para o investidor. Em sua carta de 1996, Warren Buffett escreveu o
seguinte:
“O que o investidor precisa é da habilidade de
avaliar corretamente determinados negócios. Atenção na palavra “determinados”:
Você não precisa ser um especialista em todas as empresas, nem mesmo em muitas.
Você só precisa ser capaz de avaliar as empresas no seu círculo de competência.
O tamanho desse círculo não é muito importante; conhecer o seu limite, no
entanto, é vital”
Buffett se
manteve fiel ao seu príncipio mesmo diante das pesadas críticas sofridas no fim
da década de 90. Alegando não entender de empresas de tecnologia, Buffett se
recusou a participar do boom das empresas de internet. A medida que os preços das empresas
de tecnologia iam subindo em disparada, os resultados de inúmeros gestores
também iam subindo e, consequentemente, a performance de Buffett ia ficando pra
trás. Dizer que Buffett estava obsoleto e acabado tinha virado tema comum. Até
que explodiu a bolha do Dotcom e Buffett renasceu das cinzas.
O fato é
que Buffett nunca disse que as empresas de tecnologia eram ruins. Ele apenas soube
reconhecer sua limitação em avalia-las, o que é bem diferente. E entender as próprias limitações é uma
qualidade importante na vida do investidor. Alguém poderia dizer que por se
manter em seu círculo de competência Buffett também deixou de ganhar muito
dinheiro. Como, por exemplo, ao se recusar a investir na Microsoft apesar de
ser amigo pessoal de Bill Gates há decadas. Sobre isso, Buffett é bem claro:
“Os erros são cometidos quando existem negócios
que você entende e que são atraentes e você não faz nada em relação a isso.
Eu não dou a mínima para situações que aparecem como quando eu conheci Bill
Gates e não comprei Microsoft.”
A mensagem
de Buffett é direta: em seu processo de investimento não cabem negócios que ele
não entende. Não importa se o negócio é indicado pelo dono, se é promovido por
publicitários, se é a última moda ou se muita gente está ganhando dinheiro com
ele: sem um entendimento não há
investimento. Por que ele faz isso? Porque as chances de se cometer um erro
são maiores quando se sai do seu círculo de competência.
Qualquer
pessoa de bom senso há de concordar que é mais fácil perder dinheiro em um
negócio que se conhece pouco do que em um negócio que se conhece muito. Então
por que alguém iria se expor a investir fora do seu círculo de competência? Basicamente
por modelos mentais disfuncionais. Alguns dos mais comuns são:
- Tendência de superestimar as próprias habilidades. Acontece quando o investidor acredita que seu círculo de competência é maior do que realmente é, fato muito corriqueiro entre pessoas extremamente inteligentes. Essa é a razão pela qual Buffett mencionou que conhecer os limites do seu círculo de competência é vital.
- Inveja ou, em outras palavras, não querer ficar pra trás do vizinho. O investidor deveria ocupar seu tempo em desenvolver seu processo e ir dormir cada dia um pouco melhor do que quando acordou. A corrida que o investidor deve travar é sempre contra ele mesmo. Na prática, contudo, não é assim que acontece. Investidores costumam ter natureza competitiva e por isso nutrem obsessão pelo desempenho dos seus pares. E quando todos os seus pares estão ganhando dinheiro com o desconhecido, a tentação é grande de segui-los.
- Tendência a hiperatividade. Incapazes de encontrar oportunidades dentro do círculo de competência, investidores se vêem na necessidade de navegar em mares desconhecidos. A melhor solução nesses casos é simplesmente não fazer nada. Como disse Pascal, “a maior parte dos problemas do homem decorre da sua incapacidade de ficar sozinho e quieto em um quarto.”
A boa
notícia é que é possível expandir seu círculo de competência. Como todo
processo que é bem feito, exige dedicação, tempo e paciência. Ninguém vira
especialista em uma nova indústria do dia pra noite. Mas aos poucos é possível
construir uma nova base de conhecimento. Por isso a vida do investidor deve ser
o de constante aprendizado. E é por isso que o investidor que vive uma vida de
estudos amplia cada vez mais a sua vantagem com o passar dos anos. Essa é a
verdadeira vantagem da experiência. A experiência que vem da velhice, sem um
refinamento do processo de investimento, não significa nada. Não importa o quão
bem sucedido você já é, sempre existe alguma coisa pra aprender. As vezes é um
ativo, uma indústria, um tipo de gestor ou um novo país.
Resumindo, o que fica desse post é o seguinte:
- Seja honesto consigo mesmo e defina o seu círculo de competência
- Opere apenas dentro dos limites do seu círculo de competência
- Trabalhe para ampliar o seu círculo de competência ao longo do tempo
Esse blog,
assim como meu novo twitter, é pra mim uma oportunidade de expandir meu círculo
de competência. Com eles eu sigo aprendendo com grandes pessoas um pouco mais sobre as indústrias e empresas
brasileiras. Espero que também possa ajudá-lo(a).
Stay cool,
Don Black
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