Friday, October 23, 2020

WEGsla, o foguete brasileiro

 Sextou!

É assim que a moçada fala quando chega na sexta-feira. Aprendi no twitter. Falando em twitter, ocorre que postei uma opinião sobre a WEG por lá. Foi uma ligeira opinião porque afinal de contas o propósito do twitter é ser ligeiro. Um tuite é um rabisco do rabisco.

Eis que alguns gatos pingados me enviaram mensagem pedindo para eu escrever sobre a empresa. Eu achei merecido porque a WEG é um bela empresa e tudo o que é belo merece ser compartilhado para apreciação. Ou quase tudo.

Enfim, tudo começou no início da década de 60 quando três amigos da pequena cidade de Jaraguá do Sul em Santa Catarina resolveram unir forças. Os fundadores são importantes demais para não terem seus nomes citados. São eles Werner Ricardo Voigt, Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus. Com habilidades complementares (eletricista, mecânica e administrador) tocaram a produzir motores elétricos.

Ainda nos anos 70 e os motores WEG já estavam espalhados pelo mundo. Escritório na Alemanha, construção do novo parque fabril, hum milhão de motores vendidos para mais de vinte países ao todo. Essa era a WEG nos anos 70, quando o Pelé ainda jogava bola!

Na década de 80 a WEG diversificou seus negócios e passou a fornecer soluções completas para sistemas elétricos industriais. Criou as áreas de Acionamentos, Energia, Transformadores, Química e Automação. Nos anos 90 a WEG internacionalizou de vez com a criação de múltiplas filiais ao redor do mundo. A essa altura a WEG já era uma empresa brasileira com boa parte das suas receitas fora do país.

Nos anos 2000 a internacionalização da WEG deixou de ser apenas nas representações comerciais, e fábricas foram abertas na China, Argentina e México. Tudo isso além de uma intensa atuação no mercado de aquisições ao redor do mundo.

Hoje em dia a WEG está empenhada no seu ecossistema WEG Digital Solutions.

“WEG Digital Solutions é um ecossistema que conecta e integra equipamentos e sensores, capaz de coletar e armazenar dados e transformá-los em informações que tornam possível monitorar, controlar e automatizar operações, realizando análises em tempo real.”

A WEG Digital Solutions é a WEG na fundição de digitalização com processos industriais tradicionais. É a WEG na Indústria 4.0, que une colheita e análise de dados para integrar máquinas industriais em processos inteligentes.

As vantagens potenciais da Indústria 4.0 são várias e vão de ganhos de eficiência para a empresa até melhoria das práticas de sustentabilidade. É disso que a WEG quer fazer parte.

Como minha narrativa até aqui se assemelha com um encarte promocional, aproveito para deixar um videozinho corporativo mostrando como funciona essa tal de Indústria 4.0:

https://youtu.be/GPXuY0NjaHM

Agora antes de nos iludirmos com as maravilhosas possibilidades que a Revolução Industrial dos Jetsons vai trazer, vamos nos concentrar no que a WEG é hoje.

A WEG faz parte do seleto rol dos tupiniquins que conquistaram o mundo. Global, vende para mais de 130 países e conta com mais de 90 distribuidores ao redor do mundo


Hoje uma boa parte da sua receita vem da Europa e dos Estados Unidos. A maior parte ainda vem do Brasil mas essa contribuição nacional diminuiu bastante ao longo da década.



Uma explicação decepcionante seria se a receita brasileira estivesse caindo mas para  a felicidade dos Weggers (que é como me refiro com carinho ao fã clube da companhia) não foi isso o que aconteceu. A WEG cresceu suas receitas internas a 10% aa nos últimos dez anos.


Uma explicação alternativa seria um crescimento explosivo nas vendas externas. Isso teria deixado os Weggers em polvorosa! Muito embora a WEG tenha crescido lá fora não foi nada tão explosivo assim. Um 8% aa nas vendas em dólares nos últimos dez anos.


O que aconteceu então? Aconteceu que essa receita externa tem uma outra cara quando transformada para a moeda da peble, o real brasileiro. Em reais o crescimento no mesmo período foi um generoso 18% aa.


Existem infinitas maneiras de lidar com empresas que tem receitas espalhadas pelo mundo. A maioria delas complicadas. A praxe de toda indústria é complicar porque é complicando que valorizamos nosso ofício, não é mesmo? Imagine o jurídico sem o juridiquês!

Não obstante o meu ofício é investir meus recursos. E para isso eu preciso simplificar. Imagine ser acionista da Coca Cola e contabilizar cada moeda onde se vende uma garrafa? Isso sem falar nos custos, que também são espalhados em diferentes moedas. Então se você quiser ir por um caminho sombrio do tipo calcular peso de equity risk premium por país de operação para usar em custo de equity e blábláblá, fique a vontade!

O que eu vou fazer? Eu vejo que o crescimento de 10% é razoável para uma industrial desse porte e sigo em frente. Me sinto confortável com esse nível para uma empresa no estágio da WEG mesmo sabendo que parte do crescimento não foi orgânico. O crescente goodwill nos dá uma idéia da atividade da WEG no mercado das aquisições.



Aquisições devem sempre ser vistas com alguma atenção. Elas fazem parte do pacote de alocação de capital onde tantos executivos fracassam. Alguns por incompetência, outros por prioridades pessoais. Industrials requerem cuidados adicionais pois muitas empresas apelam para grandes aquisições no afã de compensar o baixo crescimento característico da indústria.

Mas aquisições não são ruins por definição. Um caso brasileiro que tenho acompanhado de longe é o da Magazine Luiza que vem fazendo interessantes aquisições pontuais. E esse também parece ser o caso da WEG que fez boas aquisições de pequenas empresas em nichos de mercado e com linhas de atuação coerentes com o big picture da WEG. As recentes aquisições na direção da Indústria 4.0 são bons exemplos.

A WEG me pareceu bastante consciente em relação a importância dos resultados em relação a base investida então não é surpresa que sejam criteriosos com aquisições. Além disso e apesar de ser uma industrial, também sempre manteve níveis confortáveis de endividamento.



Há algum tempo que leio sobre a WEG entre os colegas do twitter. Se demorei para olha-la foi em razão de, entre outras coisas, eu não me sentir atraido por industrials. Contudo, o caso da WEG não é dos piores. Muito embora seja uma industrial, a WEG faz parte de um setor onde é possível almejar uma maior diferenciação nos seus produtos. E eu não tenho dúvidas de que a WEG conseguiu. Na indústria em que está, seus retornos só são alcançados com consistente eficiência de operação e produto superior.

Para os mais céticos, uma última mostra da eficiência da WEG está nas receitas geradas pelo seu imobilizado líquido. Empresas como a WEG são muito dependentes da sua base de ativo tangível para produzir seus produtos. São as típicas empresas da velha economia. Por isso gosto de observar esse número. E de novo a WEG não decepcionou.



Agora vou observar a gestão do capital de giro da WEG. Eu quero saber a idade do estoque da WEG porque não é raro ver industrials, em face dos seus altos custos fixos, produzirem mais do que são capazes de vender apenas para manter as fábricas ocupadas. E estoque empilhando nunca é bom sinal.

Além do mais vou ver também se a WEG não está aumentando suas vendas as custas de prazos longos para seus clientes. Um aumento no prazo médio de recebimento para 2020 seria aceitável. Estamos em um ano atípico onde muitos contratos foram revisados e flexibilizados. Mas não quero ver nenhuma forte aceleração de tendência.


Aqui também nada alarmante. A verdade é que esse rabisco já está ficando grande demais e para onde eu olho eu vejo na WEG uma boa empresa. Política de aquisição, retornos sobre capital investido, níveis de endividamento, margem do negócio, crescimento da receita, gestão do capital de giro, níveis de utilização et cetera. Tudo no seu lugar.

A empresa tem uma belíssima operação. Quem diria que uma empresa de capital intensivo e tecnologia nasceria de uma pequena cidade brasileira e ganharia o mundo? No minimo é improvável. Para aqueles mais patriotas dá para dizer que é um motivo de orgulho para os brasileiros. A WEG é sem dúvidas uma empresa superior dentro da sua indústria.

A execução ao longo dos anos foi muito bem feita com a entrada em novos mercados e a ampliação na oferta de produtos. Não só ampliação como também evolução dos produtos. A WEG direciona 2.5% da receita para pesquisa e desenvolvimento, o que hoje dá uns 350 milhões de reais. É um custo que tem que ser visto como investimento para uma empresa como a WEG. Tudo feito com propósito, dentro de um plano coerente e com atenção nas métricas de rentabilidade.

Olhando para a frente, a Indústria 4.0 pode sim abrir novas possibilidades para a WEG. Até pelo potencial de substituição que isso traria para a própria base instalada dos produtos WEG. Mas por agora essa é uma realidade ainda longe de uma adoção em massa. Muito longe.

O grande porém da WEG então fica apenas no seu preço. Pois é, sou do grupo que acha que a WEG está cara. Na verdade eu acho que a WEG está muito cara. Merece um prêmio para seus pares, disso não há dúvidas. Mas é uma empresa com limitado potencial de crescimento e expansão de margem, em uma indústria ruim. Com uma dose de generosidade e seu preço justo seria na casa dos 50 reais.

Eu sei que isso não agrada aos Weggers. É possível que eles apontem para o quão errado eu estive daqui a um ano. Um lado de mim ficaria feliz se isso acontecesse porque a WEG é uma boa empresa e gosto de ver a prosperidade das boas empresas. Mas ainda que eu esteja errado na minha avaliação de preço justo, é improvável que eu esteja errado quando digo que não há margem de segurança em uma entrada a 80 reais.

E no final das contas, isso é o que importa.


Stay cool, Weggers!

Don Black