Saturday, April 13, 2019

Inovação, por Bob Iger

Eu olho pra Disney e vejo uma das maiores - senão a maior - vantagem competitiva do planeta. A Disney é não só um dos maiores conglomerados de mídia do mundo como é também um intangível difícil de mensurar. Quanto vale a marca Disney? Quanto vale uma marca que tem tanto significado emocional para tanta gente no mundo inteiro?

Não importa se você vai na China ou no Alaska, todo mundo conhece o Mickey Mouse. E conhece também o Pateta, o pato Donald, a Bela Adormecida, o Simba, a Branca de Neve, a Frozen, etc, etc. As pessoas não só conhecem como boa parte delas tem uma memória feliz pra contar sobre algum personagem. Esses personagens são os melhores funcionários que uma empresa pode ter: encantam o consumidor, são conhecidos mundialmente, incrivelmente monetizáveis e não cobram nada. Se a Disney quiser fazer 5 minutos de propaganda com algum ator da Globo vai ter que pagar algum dinheiro e depois 99% do mundo não vai saber do que se trata. Mas basta colocar o Mickey e o retorno é estratosférico! Essa é a força dos personagens...

O homem a frente dessa marca é Bob Iger, CEO da The Walt Disney Company desde 2005. Iger entende a importância do intangível desses personagens como poucos e, não a toa, comprou a Pixar, Marvel e Lucasfilm. Iger comprou até a 21st Century Fox! E com isso juntaram-se ao seu exército de funcionários-estrela o Yoda, o Luke Skywalker, o Darth Vader, o Chewbacca, o Homem Aranha, o Hulk, o Nemo, a galera do Toy Story e mais alguns.

Depois de quase quinze anos a frente da empresa, Bob Iger já anunciou que vai deixar o cargo em 2021. Faltam apenas dois anos e Iger poderia estar apenas contando os dias mas ele quer mais, e anunciou recentemente o lançamento do serviço de streaming da Disney, o Disney+.

A beleza de ver um cara como o Iger encabeçando a iniciativa do Disney+ é perceber que nem mesmo aos olhos dele a Disney é uma empresa a salvo. Sim, a Disney tem essa grande marca e todos esses personagens que parecem tão eternos, mas a verdade é que no mundo das grandes vantagens competitivas tudo é eterno até que não seja mais. O cemitério das marcas está ai pra quem tiver dúvidas quanto à isso.

Pois bem, ontem mesmo Bob Iger deu uma excelente entrevista para a CNBC onde, entre tantas outras coisas, ele abordou essa questão da inovação. Aliás, eu recomendo que todos invistam 30 minutos para ver a entrevista inteira. Segue o link: https://www.cnbc.com/video/2019/04/12/disney-ceo-bob-iger-netflix-competitor.html

O ponto que eu quero detalhar da entrevista é esse aqui:

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Iger: "Você não pode medir [nosso negócio] contra o que ele é hoje, você tem que medi-lo contra o que ele vai ser amanhã. E uma razão pela qual as empresas falham em inovar é porque elas continuam se medindo contra o que elas são hoje. Então se o seu negócio é vender filmes para fotografia (Kodak), você quer continuar vendendo o máximo de filmes que você puder... e você não está realmente pensando em filme para fotografia como um produto que está indo embora."

Faber: Ou talvez eles falharam em entender qual é o negócio deles. Não era sobre filme para fotografia, mas sobre capturar imagens...

Iger: Aquela indústria não deveria ter sido sobre fazer filmes, mas sobre tirar fotos e deixar os clientes fazerem isso da maneira como eles quisessem. E olha, existe muita pressão para não se fazer isso. Porque você está sendo pressionado pelos resultados trimestrais, pelos resultados anuais e pelos resultados do ano seguinte, e muitas vezes a remuneração é atrelada a isso. Então se torna muito difícil inovar porque você está muito preso ao modelo de negócio que te trouxe até aqui. O que pode ser ótimo, mas também evita que empresas pensem em como o modelo de negócios delas deve ser amanhã. E nós estamos em um mundo onde tudo está sofrendo disrupção. Como nos comunicamos, como nos transportamos, como fazemos compras...

Faber: Mas está claro que você não está casado com o modelo, com os modelos de distribuição, com que você esteve casado por anos...

Iger: Nós estamos casados é com a criação de grande conteúdo para ser comercializado. O que nós também acreditamos é que não importa como o marketplace mude ou como as pessoas ouçam as histórias, nós ainda assim seremos relevantes. Mas apenas se a gente se permitir ser distribuido e adquirido pelo consumidor de uma forma mais moderna. Se nós ficarmos presos no passado, isso pra mim é a receita da extinção.
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O conteúdo desse trecho vale ouro! Repare como no final da entrevista o Iger reconhece que mesmo seu grande conteúdo pode acabar valendo muito pouco se nada for feito, o que é exatamente a motivação por trás da criação do Disney+.

O tema de inovação em grandes empresas é sempre sensível porque é muito difícil de executar. Apesar de todos os recursos disponíveis, existem muitas forças pró-inércia e Iger soube descrever isso com clareza. Enfim, pretendo voltar nesse assunto mais tarde mas por ora vou deixar vocês digerindo essas respostas do Iger.

Stay cool,
Don Black

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