Monday, September 14, 2020

O lado negro da experiência

 "Na busca do conhecimento, todos os dias algo é adquirido,

Na busca do tao, todos os dias algo é deixado para trás.", Lao Tzu

 



A tragédia de Mann Gulch é famosa. Chegou a virar livro premiado pelas mãos de Norman MacLean, sob o título “Young Man & Fire”. Nela, 15 bombeiros paraquedistas de elite pularam de um C-47 em uma floresta em Montana para conter um incêndio. Menos de duas horas depois e apenas três tinham sobrevivido.

O ápice da tragédia começou no momento em que um dos bombeiros, Dodge, notou que o incêndio estava se deslocando na direção do grupo. A equipe se reposicionou e começou a fugir do fogo que estava vindo. O problema é que as chamas de nove metros de altura estavam se movendo a quase doze quilômetros por hora. Qualquer tentativa de fuga não passaria de uma sentença de morte naquele terreno.

Dodge percebeu que a equipe não teria nenhuma chance de fugir e então, faltando poucos minutos para que o fogo os alcançasse, surgiu com uma idéia. Sua idéia foi implementar o que é conhecido hoje como incêndio de fuga. Ele ateou fogo em uma grande área próxima, ordenou que todos os bombeiros largassem seus equipamentos e que corressem e ficassem abaixados na área das cinzas onde o fogo havia sido queimado.

O princípio dessa técnica é de que o incêndio de fuga priva o grande incêndio de combustível, de modo que quando o grande incêndio chega já não há mais nada ali para queimar. É uma técnica de sobrevivência e não de contenção.

E foi uma técnica que funcionou. Dodge saiu ileso. Mas infelizmente nenhum bombeiro seguiu as orientações de Dodge. Dois deles ainda escaparam porque conseguirem se proteger na fenda de uma rocha. Todos os outros foram engolidos pelo fogo.


***


A tragédia de Mann Gulch virou um case estudado no mundo todo por várias razões. Liderança, criatividade, ação sob pressão, lidar com o inesperado... é só escolher! E apesar disso eu li o livro pela primeira vez sem filosofar muito. Comprei porque era um dos mais vendidos, li, guardei e esqueci. Foi uma leitura burocrática.

Anos depois eu estava tomando uma Zubrowka com um amigo polonês do GROM. Bom, ele já não era mais da ativa mas acho que uma vez GROM, sempre GROM. Para quem não sabe, GROM é um grupo das forças especiais polonesas. Os camaradas são dos sujeitos mais brutos da face da Terra. Trabalham com os SEALS americanos em várias operações e bebem como se não houvesse amanhã, fato que custei a me acostumar porque eles nunca ficam longe das suas armas nem depois de cinco litros de vodka.

Daí você pode imaginar minha surpresa quando esse rapaz me falou sobre o livro da tragédia de Mann Gulch. Não era desse tipo de figura que eu esperava uma resenha literária. Na verdade, já um pouco embriagado, me pareceu muito engraçado que um GROM falasse sobre psicologia e livros então a minha reação foi dar uma gargalhada. Para minha saúde física meu amigo GROM não se ofendeu. Acho que ele entende a importância de traçar perfis.

Acontece que o perfil que tracei foi péssimo e faz todo o sentido que um GROM conheça sobre Mann Gulch. “Nós viviamos situações como essas todos os dias”, ele me disse.

“Como assim?”, foi o que perguntei

“Quando a merda é nova e a gente tem que largar nosso velho equipamento pra ficar vivo. É mais difícil do que parece”

Fiquei alguns segundos calado, pensando. Sem saber bem o que falar, eu apenas disse:

 “Shall we drink to that?!”, e virei meu último gole de Zubrowka.

Eu sabia que era hora de uma releitura.

 

***


A Amazon foi a empresa mais importante da minha vida. Tudo que é possível de dar errado na relação de um investidor com uma empresa aconteceu entre a gente. Eu comprei quando devia vender. Eu vendi quando devia comprar. Eu não comprei quando devia comprar. Eu não vendi quando devia vender. Eu fiz muita coisa quando eu não devia ter feito nada. Em determinado momento da nossa relação eu achava que eu era a única pessoa do planeta a perder dinheiro na Amazon.

O problema não era perder dinheiro. O problema era não encaixar o processo. Era ficar perdido, sem entender uma empresa de tendência secular. Eu já disse aqui uma vez que sempre tive a convicção de que não devemos ficar a margem das tendências seculares. Eu sentia que tinha que colocar empresas como a Amazon no meu círculo de competência e eu não estava conseguindo. Mas eu me recusava a ser, como Lemann disse certa vez, um dinossauro apavorado. E então meu diálogo com o GROM veio bem a calhar.

Quando eu voltei a ler sobre a tragédia de Mann Gulch eu li sobre o psicólogo Karl Weick. Weick estudou outras situações parecidas e sobre elas escreveu:


“Abandonar suas ferramentas é uma proxy de desaprender, de adaptação, de flexibilidade. É a própria resistência das pessoas em abandonar suas ferramentas que transforma esses dramas em tragédias.”, Karl Weick

 

Eu estava determinado a não transformar meu drama com a Amazon em tragédia. Com a Amazon eu tive que desaprender para sobreviver. Menos book value, menos lucro, mais fluxo de caixa, mais intangível, mais disrupção. A Amazon me ensinou na marra e me preparou para muitas oportunidades que viriam pela frente.

Hoje eu posso dizer que a Amazon foi a empresa mais importante da minha vida. Tudo que é possível dar certo na relação de um investidor com uma empresa aconteceu entre a gente.


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“Ao invés de se adaptar a situações pouco familiares, Weick notou que grupos experientes se tornam rígidos sob pressão e regressam àquilo que eles sabem mais.”, livro Range

 

Uma das maiores lições que tirei do mercado é manter a mente aberta. Gosto de pensar que isso já está na minha natureza mas prefiro não contar com isso e manter a vigilância. A medida que o tempo passa ficamos mais presos aos nossos equipamentos. A medida que o tempo passa somos mais vulneráveis ao viés da consistência e do comprometimento. Esse é o lado negro da experiência. É como se a raiz das nossas crenças avançasse sempre mais a fundo.

Esse dogmatismo natural que a experiência traz pode ser desastroso em ambientes de padrões não-óbvios e feedback atrasado. Segundo o psicólogo Robin Hogarth, ambientes assim são chamados de ambientes hostis. E adivinha qual é um ambiente hostil? Sim, o de investimentos.

Então desconfie sempre daquele que está sempre hipervalorizando a importância da experiência. Sim, ela é importante. Mas requer uma mente aberta que, como vimos, não é tão fácil de alcançar. E é improvável que alguém que tenha alcançado viva se vangloriando por sua experiência, por mais experiente que ele seja. 😉


***


Esse texto todo foi motivado por um pedido de recomendação sobre um gestor. É claro que eu não recomendei nada. Eu apenas dei o link do post que fiz sobre o tema, Meu gestor de investimentos favortio.

Eu não gosto de recomendar nada. Acho recomendação de uma chatice sem tamanho. Tem várias outras questões que não me agradam em recomendações, mas ser chato é a principal delas. É tão chato que as vezes até me surpreendo com o tamanho da indústria de recomendações. Acredito que pague bem. O ser humano está disposto a fazer qualquer coisa diante de apropriado contracheque e dar recomendações de investimentos passa longe de ser a pior delas. Apenas acho chato, mas fico feliz que tenha gente boa que goste.

Então não percam o tempo de vocês me pedindo recomendações de investimentos. Eu não vou dar.


 *** 


A título de curiosidade fui conhecer o trabalho do gestor que o rapaz pediu. Eu não dou recomendações mas também nem sempre controlo minha curiosidade. Fiquei preocupado de perder muito tempo com essa besteira mas no fim das contas me levou menos de 30 minutos.

Fui pesquisar e vi que o rapaz teve bons e maus momentos. Normal. O momento ruim foi ruim além da conta, mas acontece. Fui ver algumas cartas. Peguei da época ruim, da época boa e uma mais recente que, por acaso, também vai bem. Não é preciso ler as cartas todas, só passar os olhos.

Muita frase de Buffett, muito discurso de value investing. Normal também. Value investing virou estratégia de marketing para todo tipo de fundo. Todas as cartas com doses de arrogância. Sim, nem o período das vacas magras trouxe humildade. Foi um festival de “o mercado não percebe, nós percebemos, nós vamos aproveitar”. E com isso os erros foram se empilhando. Compounding também anda de marcha ré.

Outra característica do período das vacas magras foi culpar o cenário macro. O pobre cenário macro serve pouco para receber mérito dos falsos value investors nas épocas gordas mas são os primeiros da fila na hora de encontrar culpados por uma tragédia de performance. Cuidado com profissionais que terceirizam responsabilidades quando as coisas vão mal.

Para mim já estava suficiente mas para quem gosta tinham outros sinais. Redução da comunicação com investidores no período ruim e mudança de nome para fazer o histórico cair no ostracismo são dois deles.

As cartas recentes continuam destilanto arrogância. Os maiores investidores não são arrogantes por construção. Eles tem humildade. Não é que eles sejam passivos. Eles demonstram arrogância pontual dependendo da situação em que estão. Mas não fazem da arrogância uma guia de vida. Não sou psicólogo mas acredito que a arrogância por construção é um mecanismo de defesa para mascarar algum complexo. Por isso é comum em pessoas muito defensivas.

E, claro, hoje ele se vangloria por sua experiência. Mas a essa altura você já sabe o que isso quer dizer, não é mesmo?

Eu não dei recomendação para o rapaz, apenas indiquei um post. Mas se ele leu, vai saber exatamente o que fazer.

Ou o que não fazer.

 

Keep your mind wide open,

Don Black


Monday, September 7, 2020

A Pizzaria do Don: Demonstrações financeiras para iniciantes

Tenho um conhecido que diz que relatórios financeiros estão para investir como o manual do carro está para dirigir. Uma das coisas mais estúpidas que você já ouviu, eu sei. É verdade que para alguns traders os números financeiros de uma companhia são dispensáveis mas não é disso que o rapaz se refere. Ele realmente se enxerga como um investidor de longo prazo e acha que não precisa olhar para os relatórios da companhia.

Para ele basta uma avaliação qualitativa geral do negócio. Na verdade ele já usou até estratégias mais esotéricas como comprar uma ação só porque sonhou com ela. Para surpresa de ninguém, esse rapaz não depende dos seus investimentos. Ele é apenas como boa parte dos participantes do mercado: se diverte com a atividade, não ganha muito mas também não perde o suficiente para sair do jogo. E assim vai indo.

Entender relatórios financeiros é obrigatório para um investidor. Essa é uma verdade. Outra verdade é que primeiro precisamos aprender a andar para um dia corrermos. Munido dessas duas verdades decidi escrever o texto de hoje, um texto básico sobre os relatórios financeiro que espero que possa ajudar os iniciantes.

Então aqui fique avisado de que esse é um texto inicial sobre relatórios financeiros. Se você já entende disso, seu tempo vai ser melhor aproveitado em alguma outra coisa.

SIGA O DINHEIRO

A melhor forma de entender contabilidade é pensar no negócio. Vamos imaginar como o dinheiro se mexe dentro de um negócio simples.


(1) Uma empresa precisa de dinheiro para começar. Ela vai levantar dinheiro vendendo parte do negócio ou pegando dinheiro emprestado. Assim, acionistas ou credores vão fornecer capital para o início das operações.

(2) e (3) A empresa vai pegar essa grana e pagar por equipamentos e instalações para começar a produzir seu estoque que, mais tarde, será vendido.

(4) e (5) Na hora da venda a empresa pode vender a vista ou a prazo. Se vender a vista o estoque vai virar dinheiro. Se for a prazo o estoque vira contas a receber.

(6) Contas a receber é só um jeito chique de chamar o bom e velho fiado. Tudo que foi vendido a fiado fica no contas a receber até que o cara que pegou fiado pagar o que deve. Quando o cara finalmente paga o que deve esse valor sai do contas a receber e vira dinheiro na mão da empresa.

Agora que a empresa já ganhou uma grana com suas vendas ela vai poder gastar esse dinheiro de várias maneiras:

(7) parte disso vai para produção com a compra de matéria-prima.

(8) parte vai para investimentos. Aqui a empresa compra mais equipamentos para poder ampliar a produção por exemplo.

(9) parte vai embora na forma de impostos para aquele sócio que ninguém gosta muito chamado governo.

(10) e parte volta para aqueles que deram dinheiro lá no início de tudo. Pode voltar na forma de dividendos para os investidores/sócios ou na forma de juros de dívida para os credores.

 Legal, não é? Agora você se pergunta, “tudo bem, mas como isso ai se transforma em relatórios financeiros?”.

Pra responder essa pergunta eu te convido a conhecer a Pizzaria do Don!


A PIZZARIA DO DON


Como ando meio desocupado resolvi abrir uma pizzaria. E como ando meio quebrado, resolvi pegar uma grana emprestada para isso. Apesar de quebrado sou bem relacionado. Por isso peguei 1 milhão de reais no Banco Nacional de Desenvolvimento Economico dos Amigos do Rei, o BNDEAR.

1. Um milhão de reais emprestados pelo BNDEAR. O empréstimos vence daqui a muito tempo:


Agora que tenho dinheiro no caixa é hora de fazer nascer a Pizzaria do Don. Comprei uma pequena loja e dei uma recauchutada. Comprei também um forno de última geração, cadeiras, mesas e louças chiques. No total gastei 700 mil reais com a loja, os equipamentos e o mobiliário.

Sobrou 300 mil. Desses 300 contos eu peguei 200 mil para comprar farinha, queijo, calabresa, vinho, refrigerante e todos os outros ingrediantes que eu preciso para atender minha clientela.

Eu sei que parece muito mas pense que um Romanee Conti é bem caro. Minha pizzaria é de bacana!

Vou guardar 100 mil reais.

2. Comprei loja, equipamento (ativo imobilizado) e estoque.


Se eu tivesse que divulgar um balanço agora o negócio estaria assim:


Noite de inauguração, noite de casa cheia! Alguns amigos políticos que me ajudaram a conseguir o empréstimo com o BNDEAR vieram. Além deles uma turma fez questão de conhecer essa nova pizzaria da cidade.

Quando a noite acabou eu sentei no sofá para tomar nota do que aconteceu. Metade do meu estoque tinha sido vendido. O pessoal se fartou de pizza e vinho caro. Então eu tive um “custo de produtos vendidos” de 100 mil reais (metade dos 200 mil reais do estoque).

Como não sou bobo, abri a pizzaria do Don para ter um bom lucro. Determinei que todo o estoque que eu comprei por 200 mil reais seria vendido por 600 mil reais. Isso me daria uma margem bruta de 67%.

Trabalhei com essa margem na cabeça a noite toda. Como vendi metade do meu estoque, acabei vendendo um total de 300 mil reais (600,000/2). Então eu vendi 300 mil reais de produtos que me tinham me custado 100 mil reais.

 Mas lembra que eu disse que recebi alguns amigos políticos? Pois é, como eles são bacanas e me ajudaram com o empréstimo, eles foram embora e não pagaram. Mas prometeram pagar depois! O valor da conta deles? 70 mil reais. Então foram 70 mil reais que fiquei pra receber no futuro.

3. Vendi metade do estoque. Um total de 300 mil reais sendo que 70 mil reais foi fiado e vou receber depois.




Já era hora de se preparar para a noite seguinte. A hora da abertura estava chegando quando me dei conta de que o estoque de vinho estava baixíssimo! É assustador o quanto essa turma bebe de vinho. Eles dizem que vão comer pizza só para ter uma desculpa para se embriagar.

Fato é que precisei ir no mercado do português comprar mais vinho as pressas. O português é guloso e cobra uma fortuna mas aquela altura eu não tinha tempo para ir em outro lugar. Cheguei no português, escolhi os vinhos e na hora de pagar notei que tinha esquecido o cartão.

Para minha sorte o português é meu amigo! Então agora foi a minha vez de pegar fiado. Peguei 50 mil reais de vinho e fiquei de pagar depois. Bem que eu disse que era vinho pra xuxu e que o português era meu amigo...

Esses 50 conto vão para o “contas a pagar”. O contas a pagar é quando eu pego fiado e o contas a receber é quando pegam fiado de mim.

4. Comprei fiado 50 mil reais de vinho com o português




Indo para a segunda noite eu notei mais um problema! O problema é que o forno estava demorando mais para assar as pizzas. Ele já não estava mais tão eficiente como quando comprei. O nome disso é depreciação. Depreciação é a forma de contabilizar a perda de produtividade dos equipamentos. Meu forno estava um pouco pior mas ainda dava para usar. Chega uma hora em que a depreciação vai se acumulando e o equipamento já não presta mais. Quando isso acontece é hora de substituir o equipamento todo.

Eu ainda não estava precisando substituir todo mas o forno já não era assim mais tão eficiente. Então a contabilidade diz que eu tenho que contabilizar isso de alguma maneira. A contabilidade está sempre querendo contabilizar tudo que acontece.

A minha maneira aqui foi dizer que o forno sofreu uma depreciação de dez mil reais. Na vida real a depreciação é medida e contabilizada de outras maneiras mas por enquanto aceite que o forno sofreu uma depreciação de dez mil reais.

5. Forno sofreu depreciação de 10,000.



Se eu for fazer minha demonstração de resultados agora ela vai ficar assim:




O olhar atento vai notar que meu lucro está diferente da minha variação de caixa. Meu lucro foi de 190,000 enquanto meu caixa cresceu 230,000 (dos 100,000 iniciais para 330,000).

Porque? Essa diferença está no coração da contabilidade. O lucro contábil tenta retratar a realidade economica da empresa da melhor forma possível enquanto o caixa mede apenas quantos reais (R$) já entraram e sairam do negócio.

Lembra quando eu tive que contabilizar 10 mil reais de depreciação do meu forno? Eu precisei fazer isso para deixar claro que meu forno já não esta tão eficiente quanto antes. E por não ser mais tão eficiente, ele hoje vale menos do que ontem. Por isso meu ativo imobilizado saiu de 700 mil reais para 690 mil reais. Esses 690 mil reais é um montante mais realista para a atual situação do meu negócio.

Mas embora esses 10 mil reais tenham afetado meu lucro, ele não afetou meu fluxo de caixa. Não afetou por que eu não gastei nenhum real para consertar o forno. Como se diz, essa depreciação não teve efeito caixa mas impactou meu lucro contábil.

Vamos olhar para o que aconteceu com o balanço da minha pizzaria, comparar com a demonstração de resultados e tentar construir uma demonstração do fluxo de caixa para conciliar essa diferença entre lucro e caixa.

O balanço mudou desde a última vez que construimos (inicial) e agora esta da seguinte forma (final):



(a) Vamos começar do lucro reportado de 190 mil reais. Já expliquei que depreciação afetou meu lucro mas não afetou meu caixa. Sendo assim, precisamos colocar esse valor de depreciação de volta no lucro para tentar chegar no caixa.

(b) Meu estoque saiu de 200 mil reais para 150 mil reais. Essa redução de 200 para 150 mil é uma fonte de caixa para a empresa. É um dinheiro que estava preso na forma de estoque e que agora foi liberado.

(c) O meu contas a receber saiu de zero para 70 mil reais. A decisão de conceder esse crédito para meus amigos políticos foi uma decisão de negócios que eu tomei e que portanto tirou 70 mil reais do caixa.

(d) Meu contas a pagar saiu de zero para 50 mil reais. Esse é um dinheiro que eu deveria ter gastado mas que não saiu da conta porque foi uma compra a crédito. Graças ao meu amigo português essa foi uma decisão de negócios que eu pude tomar e que liberou 50 mil reais para o caixa.



Pronto! Partindo do lucro da pizzaria nós ajustamos as variações das entradas "não-caixa" do balanço e chegamos naquilo que foi o caixa gerado pela operação.

A conclusão mais importante aqui é que o fluxo de caixa e a demonstração de resultados mostram coisas diferentes e por isso é importante que o investidor olhe os dois. 

Eu acho que já está bom para esse primeiro texto. E com tudo que vimos aqui eu gostaria que você pensasse em algumas perguntas:

1) O que é um balanço, uma demonstração de resultados e uma demonstração de fluxo de caixa?

2) Como os três estão conectados?

3) Porque o lucro e o caixa gerado nem sempre iguais? É possível uma empresa ter lucro e quebrar?

Stay cool,

Don Black