Wednesday, January 22, 2020

Ninguém está a salvo. Druckenmiller e sua FOMO


Amigos, eu sei que foi há pouco que publiquei minha última postagem. Acontece que li hoje uma matéria sobre o formidável Stanley Druckenmiller e essa matéria me fez lembrar um velho caso. Um excelente velho caso de ninguém menos que o próprio Druckenmiller.

Toda vez que um grande gestor é entrevistado aparece a pergunta sobre o maior erro e qual lição foi aprendida. Com Druckenmiller não foi diferente. Há poucos anos atrás ele respondeu essa pergunta de forma única. A narrativa é tão boa que vou apenas reproduzir aqui as palavras do próprio. Preparem-se para um misto de comédia e tragédia:

“Bom, eu cometi vários erros, mas um deles foi especialmente único. Então, essa é uma história engraçada, pelo menos 15 anos depois, porque a dor diminuiu um pouco. Mas em 1999, depois que o Yahoo! e a America Online já haviam subido dez vezes, tive a brilhante idéia lá na Soros [onde Druckenmiller trabalhava] de shortear ações de internet. Então coloquei 200 milhões de dólares nisso lá pra fevereiro e até meados de março eu já tinha perdido 600 milhões de dólares, tendo sido completamente espancado e já estando 15% negativo no ano. E eu era muito orgulhoso do fato de nunca ter tido um ano negativo, então eu pensei, agora já era.

Então, o que aconteceu depois é que eu não consigo me lembrar se eu fui para o Vale do Silício ou se eu falei com algum jovem de 22 anos com Asperger. Mas o que quer que tenha sido, eu fui convencido desse novo boom de tecnologia que estava para acontecer. Então eu fui e contratei uns dois gestores porque até então nós só conheciamos a IBM e a Hewlett-Packard. Nós contratamos esses caras e encerramos o ano – nós estavamos negativos 15% e acabamos positivos algo como 35% no ano. E a Nasdaq tinha subido 400%.

Então, eu nunca vou me esquecer. Janeiro de 2000 eu entro no escritório do Soros e eu digo que eu vou vender todas as empresas de tecnologia, vender tudo. Isso é loucura! 104 vezes os lucros. É maluquice. Assim como expliquei anteriormente, vamos nos afastar e esperar pela próxima oportunidade. Eu não demiti os dois analistas. Eles não tinham dinheiro o suficiente para comprometer o fundo, mas eles começaram a fazer 3% ao dia e eu estava fora [das ações de tecnologia]. Aquilo estava me deixando maluco. Quer dizer, a pequena conta deles estava uns 50% no ano. Eu acho que o Quantum [que Druckenmiller geria] estava 7%. Estava apenas parado lá.

Então lá pra Março eu senti que estava chegando. Eu simplesmente – eu tinha que participar. Eu não conseguia evitar. E três vezes em uma mesma semana eu peguei o telefone e – não faça isso. Não faça isso. Enfim, eu finalmente fui e peguei o telefone. Eu acho que eu errei o topo por uma hora. Eu comprei 6 bilhões de dólares em ações de tecnologia, e seis semanas depois eu sai da Soros e eu tinha perdido 3 bilhões de dólares nessa única jogada. Você me pergunta o que eu aprendi. Eu não aprendi nada. Eu já sabia que eu não deveria fazer aquilo. Eu fui apenas um caso emocional e não consegui me conter. Então, talvez eu tenha aprendido a não fazer isso de novo. Mas eu já sabia disso.

Aqui não estamos falando de um gestor qualquer. Stanley Druckenmiller tem três décadas de um track record de 30% CAGR. É um dos maiores da história. E mesmo os maiores da história são vítimas de vieses e armadilhas psicológicas. Druckenmiller sucumbiu ao FOMO – fear of missing out – que nada mais é do que o medo de ficar de fora. O medo de ver todo mundo ganhar dinheiro menos a si mesmo.

Como diz um velho ditado, só existe uma coisa pior do que não conseguir o que queremos. É não conseguir o que queremos e ver alguma outra pessoa conseguir.

Stay cool,
Don Black

*Para variar vou indicar um livro. Michael Batnick escreveu um livro chamado “Big Mistakes: The Best Investors and Their Worst Investments” onde fala sobre os grandes erros de uns 15 grandes investidores. Esse caso de Druckenmiller está entre eles.




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