O ZERO ESFORÇO, O POUCO ESFORÇO E O INVESTIDOR PRIVADO
Por alguma
razão que me foge a compreensão tenho recebido algumas mensagens em busca de
orientação profissional. O post portanto começa com um alerta: não é recomendado pedir orientação profissional para perfis anônimos da internet.
Dito isto, ainda que eu apreciasse poder indicar o melhor caminho de vida para as pessoas, eu não posso. Verdade seja dita, eu mal sei o que fazer da minha própria existência e tem sido mais ou menos assim desde que eu comecei a tomar minhas próprias decisões.
Dito isto, ainda que eu apreciasse poder indicar o melhor caminho de vida para as pessoas, eu não posso. Verdade seja dita, eu mal sei o que fazer da minha própria existência e tem sido mais ou menos assim desde que eu comecei a tomar minhas próprias decisões.
Nutro a
desconfiança de que as perguntas acontecem por que sou investidor privado. E
como há certo entendimento de que um investidor privado é alguém que ganha
muito e trabalha pouco, nada mais intuitivo do que pedir para que esse felizardo
te indique o caminho da glória, qual seja, ficar rico sem fazer nada.
Até o mais
primitivo dos seres humanos há de reconhecer que se hoje você é pobre então
alguma coisa tem que acontecer para que você deixe de ser pobre. Tudo o mais
costante você continuará sendo pobre, com o agravante de ir envelhecendo.
Como é de
se esperar da natureza preguiçosa do ser humano as soluções ideais passam por
mudanças que independem da nossa ação, daí o sonho de ficar rico sem fazer
nada. Um exemplo seria a morte de um parente desconhecido que por obra do
destino deixasse uma gorda herança. É um exemplo tão bom que nem o luto da
perda existe.
Diante da dificuldade
de fato semelhante acontecer o ser humano passa então ao próximo passo. No
caso, o próximo passo é ficar rico fazendo muito pouco esforço. Aqui é onde
entram as loterias, cassinos, corridas de cavalo, bolsa de valores e até
casamentos. E é aqui também onde somos mais humilhados pelas artimanhas dos
nossos cérebros, que nos fazem ignorar desde a improbabilidade dos eventos até
os efeitos colaterais das decisões.
Na regra da
fortuna pelo menor esforço entram também os trambiques. Não importando o quão
impossível seja uma solução, sempre haverá um vendedor oferecendo o que um
comprador se dispõe a pagar. É regra básica do comércio, da economia e da
trambicagem em geral.
Veja que
notável encontro comercial. De um lado, trambiqueiros que viram na arte da trapaça
um atalho para a prosperidade. Do outro lado – note bem como existe certa
ironia nisso – incautos dispostos a perder dinheiro suado para alimentar a ilusão de ganhar dinheiro
fácil. É a manifestação plena do livre comércio, onde para muitos não há
inocentes.
Para
decepção de muitos e sob pena de deixar de ganhar dinheiro e seguidores, sempre
alerto para as dificuldades de enriquecer sendo exclusivamente um investidor
privado. Mesmo investidores famosos não buscam esse caminho. Ao invés disso se
protegem atrás de uma estrutura de remuneração (taxa de administração, assinatura de conteúdo, etc) que garante um
fluxo generoso o suficiente para manter um alto padrão de vida e construir o
patrimônio à margem do que acontece na performance dos investimentos.
A pessoa
comum que se aventura a ser um investidor privado não tem esse luxo. Ele é
pressionado por necessidades de caixa e um patrimônio restrito. Investir sob
esse estresse e insegurança é uma realidade completamente diferente que distorce o campo de jogo. Então se você achou por um momento que ser um investidor
privado fazia parte da categoria de ficar rico fazendo pouco esforço convém
reavaliar.
Imagino que
esse entendimento distorcido sobre investidores privados decorre naturalmente
do fato de que muitos dos auto intitulados investidores privados são ricos e
não fazem muita coisa. E como diz o ditado, “só acredito naquilo que vejo”. Mas
daí a acreditar em tudo que vemos também não é boa medida já que boa parte do
iceberg se esconde debaixo d'água. Anote esse segredo: boa parte dos auto intitulados
investidores privados são ricos apesar de serem investidores e não porque são
investidores.
Veja só, a
maioria dos investidores privados são ricos buscando rentabilizar um patrimônio
que não foi construido investindo organicamente. Normalmente o patrimônio vem da
família ou da venda de um negócio anterior. Com o patrimônio já garantido para
algumas gerações essa pessoa passa a se intitular um investidor privado e assim
ela passa a frequentar eventos exclusivos, conhecer outras pessoas ricas e
poderosas e ser bajulada por gestores famosos e vendedores atraentes. Sexo,
dinheiro e poder, o tridente motivador do comportamento humano. Quem
pode resistir?
Enfim, para
esse auto-intitulado investidor privado o valor investido é alto em termos
absolutos, o nível de investimento é conservador em relação ao % do patrimônio
e com essa combinação ele aparenta ser um grande investidor sem precisar ter resultados.
Pura mágica!
A rigor esse sujeito realmente é um investidor privado mas é importante que o
investidor comum veja a fotografia inteira. E a fotografia inteira é que generosa parcela dos investidores não
existiria se houvesse alguma lei divina que impedisse aqueles que não
ascenderam organicamente como investidores do próprio patrimônio de serem denominados
investidores.
Então se
você pensa em ficar rico organicamente sendo um investidor privado, vá devagar.
Esteja seguro com seu fluxo de caixa e o
tamanho do seu patrimônio em um cenário onde seus investimentos perdem 50% do
valor antes de fazer alguma idiotice só porque um bando de ricos posta foto
ostentando uma auto-intitulada vida de investidor privado.
O MUITO ESFORÇO
Ok, acho
que até agora venho fazendo um bom trabalho nesse texto. O trabalho da
desilusão. Já levantei as dificuldades de ganhar dinheiro sem fazer nada e de
ganhar dinheiro fazendo muito pouco. Já joguei também um balde de água fria
naqueles que almejam jogar tudo para o alto e começar a ser um investidor
privado na próxima segunda-feira. Com todos esses sonhos destruidos vamos para
o que resta: ganhar dinheiro se esforçando.
O
interessante de se esforçar para ganhar dinheiro é a quantidade de pessoas que
impõem como regra um auto-flagelo. São pessoas que trabalham 16 horas por dia
em alguma atividade insuportável em troca do que convencionou-se chamar
realização profissional. Eu sempre achei essa lógica estúpida. É uma lógica tão estúpida que os próprios participantes
precisam criar uma narrativa que justifique tamanho absurdo. Investment bankers
se promovem como uma seita exclusiva, estagiários de backoffice fingem que
estão passando por algum teste de grandeza, e por aí vai. Tudo bobagem.
Uma regra
que faz sentido é se livrar logo daquilo que faz sua vida insuportável. Steve
Jobs transmitiu essa idéia de uma forma um pouco diferente quando disse:
“Eu me olhava no espelho todas as manhãs e me perguntava: “Se hoje fosse o último dia da minha vida, eu ia querer fazer o que eu estou para fazer?” E sempre que a resposta era “Não” por muitos dias seguidos, eu sabia que precisava mudar alguma coisa.”, Steve Jobs
O valor de
fazer uma atividade que você gosta está nos bons comportamentos que brotam
naturalmente. Somos mais curiosos e nos esforçamos mais e por mais tempo em
atividades que nos dão prazer. E coincidentemente as chances de sucesso são
maiores para pessoas curiosas e que se dedicam com intensidade e consistência.
Resumindo, fazer o que gosta tem consequencias naturais que aumentam a chance de
sucesso. E o melhor, sem precisar viver uma vida de penitência.
Puro papo
de coach, eu sei. Mas é como foi pra mim, é o que acho que faz sentido e é a
melhor forma que consigo responder a famigerada pergunta: “Don, o que você acha que
eu devo fazer?”
Stay cool,
Don Black
Muito bom. Penso da mesma forma, se não gosta do que faz, não faça, busque uma atividade que lhe seja agradável e lucrativa. Pessoas que se "matam" de trabalhar ou ficam contando os dias para aposentar, com certeza, estão na atividade errada. Quanto ao que se deve fazer, consulte MMe. Lenormand, a maior vidente de todos os tempos.
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