Rick Guerin
é o nome do sujeito. Ele não é um camarada muito conhecido do grande público. E
talvez ninguém jamais tivesse ouvido falar do seu nome se não fosse pela menção
que Buffett fez a Guerin no épico texto The Superinvestors of Graham and Doddsville*. Uma menção para lá de justa diante dos seus resultados:
A tabela
acima mostra um nada modesto track record com retorno anualizado de 32.9% ao
longo de 19 anos. Então era de se esperar que um superinvestidor com esse nível
de resultados fosse se tornando cada vez mais famoso ao longo do tempo. Mas ao
invés disso Rick Guerin desapareceu.
A
curiosidade sobre o que foi feito de Rick Guerin foi tanta que Mohnish Pabrai não se conteve e perguntou direto na fonte, ou seja, para Warren Buffett. Para aqueles que não
conhecem, Mohnish Pabrai é um investidor indiano, autor do excelente livro The Dandho Investor, e que ficou famoso ao vencer um leilão para almoçar com
Buffett.
Enfim, de
acordo com Mohnish Pabrai, Buffett respondeu sobre Guerin alguma coisa como:
“Sim, eu ainda tenho muito contato com ele. Charlie e eu sempre soubemos que seriamos incrivelmente ricos. Nós nunca tivemos pressa para ficarmos ricos; nós sabiamos que ia acontecer. Rick era tão esperto quanto a gente mas ele estava com pressa.”
Pabrai
explicou na entrevista, que pode ser vista aqui, que Rick Guerin estava
alavancado em 73 e 74, e que com a queda dos mercados teve que encarar chamadas
de margem e foi obrigado a se desfazer de algumas posições.
Quando eu
olho para os resultados de Rick Guerin eu vejo que ele realmente sofreu perdas
de mais de 60% em 73 e 74, mas se recuperou nos anos seguintes. Então não é
claro se no final das contas a alavancagem de Guerin o tirou definitivamente do
jogo ou não.
Mas segundo
Pabrai, o que começou como uma curiosidade sobre o destino de Guerin acabou
como uma valiosa lição de Buffett: tomar cuidado com alavancagem e ter
paciência.
E sobre alavancagem, Buffett já havia nos presenteado com esse
trecho na carta da Berkshire de 2010:
“Inquestionavelmente, algumas pessoas se tornaram muito ricas através do uso de dinheiro emprestado. No entanto, esse também tem sido um caminho para ficar muito pobre. Quando alavancagem funciona, ela magnifica os seus ganhos. Sua esposa pensa que você é esperto e os seus vizinhos ficam com inveja.
Mas alavancagem é viciante. Uma vez tendo lucrado com suas maravilhas, pouquíssimas pessoas se recolhem a práticas mais conservadoras. E como todos nós aprendemos na terceira série – e alguns reaprenderam em 2008 – qualquer série de números positivos, por mais impressionantes que esses números sejam, evapora quando multiplicada por um único zero. A História nos diz que alavancagem está sempre produzindo zeros, mesmo quando aplicadas por pessoas muito inteligentes.”
Eu gosto
desse trecho porque não só alerta para o perigo da alavancagem como mostra um
pouco da psicologia que nos faz cair no canto da sereia de investir com
dinheiro emprestado.
Agora, toda
vez que mostro Buffett alertando sobre alavancagem eu ouço alguma coisa do tipo:
“Buffett fala isso mas ele fez fortuna investindo com dinheiro emprestado.”
Sim, é verdade. Mas seria hipocrisia?
Eu não vejo assim.
Para o
investidor profissional que conhece a trajetória de Buffett, não é nenhuma
novidade que Buffett tenha feito muito dinheiro usando o float das seguradoras.
Ele fala isso exaustivamente em suas cartas há mais de 50 anos. Sempre foi
transparente. E essa transparência dá contexto para o profissional que busca
entender como ele alcançou seus resultados.
Mas Buffett
não fala apenas para profissionais especializados. Hoje ele é capa de um
jornal, amanhã ele está na televisão, depois de amanhã ele aparece em uma
revista... Buffett tem um alcance que vai muito além do mundo financeiro.
Buffett fala para o grande público.
O grande
público é a pessoa comum que está vendendo o almoço para pagar o jantar. Ele
olha para o velhinho que todos dizem ser o guru das finanças e quer respostas.
Ele quer parar de ter que trabalhar 12 horas por dia por um salário mínimo e poder
ter um pouco mais de conforto. Ele quer poder dar um brinquedo novo para o
filho e levar a esposa para jantar em um lugar legal. Quem sabe até ter um carro?
Então o que o cara
conhecido como "Oráculo" deve falar para essa pessoa comum? Que fez fortuna
operando alavancado? A pessoa comum não sabe alocar capital como Buffett. E
mesmo para aqueles que são bons investidores é muito difícil pegar dinheiro nas
condições que Buffett consegue. Então eu acho que seria uma grande tragédia se
Buffett saisse por aí vocalizando o valor que a alavancagem teve na sua carreira.
Eu sempre
gostei da maneira como Buffett é conectado com a realidade apesar da sua
posição. Ele entende perfeitamente que seu mundo não é o mundo do resto do
mundo. E passa mensagens fáceis de entender e que podem ter grande impacto na
vida da pessoa comum. Quem não entende a idéia de não pegar dinheiro emprestado?
Quem não entende a idéia de ter uma vida sem ostentações? É simples, é senso
comum e é construtivo!
Ás vezes
tenho a impressão que esse senso de realidade falta em muito círculos que
acompanho do mercado financeiro brasileiro. Algumas iniciativas, como a de
reduzir as taxas dos fundos cobradas pelos grandes bancos, me deixam esperançoso.
Mas
outras vezes vejo profissionais em discussões muito distantes da realidade do público brasileiro. Qual é o valor de falar em escolher fatores de risco para um
público que sequer sai da poupança? Qual é o valor de atacar a renda variável em um
ambiente de juros como o atual? Isso é descolamento da realidade.
E em um
ambiente onde os profissionais se descolam da realidade, os amadores
oportunistas florescem. E quando os amadores oportunistas florescem, infelizmente,
o grande público padece.
Vamos trabalhar juntos para que isso aconteça cada vez menos.
Vamos trabalhar juntos para que isso aconteça cada vez menos.
Stay cool,
Don Black
*O amigo The Twitter Investor (@thettinvestor) publicou uma tradução bacana do texto "The Superinvestors of Graham and Doddsville" que pode ser lida aqui
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