Eu assino três jornais. WSJ, NYT e FT, caso você esteja se perguntando quais. Meu consumo é todo online e minha filosofia é de que se eu cair em um número suficiente de paywalls que me irrite, eu assino. Vez por outra assino um apenas para me decepcionar e cancelar pouco tempo depois.
Nunca na
minha vida eu assinei assim tantos jornais. O mais curioso de tudo é que nunca
na minha vida eu li tão pouco jornal. Não que eu esteja jogando dinheiro
fora. Acredito que o que pago é justo quando considero as informações que tenho
acesso. Apenas meu tempo de atenção está mais distribuido por outros canais.
O consumo
de notícias até lá para início dos anos 2000 era um mix de jornal nacional,
jornal de bairro e revistas. Sempre gostei de ler e por isso eu lia todo o
jornal nacional, todo o jornal de bairro e uma ou outra revista quando o
dinheiro dava. Era isso. Se eu não gostasse da cobertura internacional do
jornal eu não ia na banca comprar um outro jornal com boa cobertura internacional.
Se eu não gostasse do colunista de futebol eu não ia na banca comprar o texto
de um colunista que eu gostasse. O que tinha era o que tinha.
E se
leitores tinham opções limitadas, anunciantes também tinham. Para felicidade
dos jornais. O dinheiro era farto não só nas tiragens como também nos anúncios.
Os jornais se lambuzaram até não poderem mais com todo esse controle de
distribuição. Encheram os bolsos, criaram celebridades e ditaram o tom.
Ainda que nunca admitissem.
Até que
chegou a internet.
Veja o meu
caso. Como eu disse, nunca li tão pouco jornal. Mas por outro lado sigo lendo
tanto ou ainda mais do que antes. A minha atenção vai além dos jornais para predominantemente
blogs e sites especializados. Para todo assunto do meu interesse existem
autores excepcionais publicando na internet de maneira independente. O
cardápio é vasto e fragmentado. Eu não preciso consumir tudo sobre negócios em
um só lugar. Existe um para tecnologia e existe um para varejo. Assim como em
esportes. Existe um para futebol e um para golfe. E assim é com viagem,
cultura, gastronomia. A internet diminuiu restrições sobre onde posso colocar
minha atenção na hora de consumir conteúdo.
A
internet quebrou o controle de distribuição dos jornais e ampliou a oferta de
notícias daquilo que o público quer consumir. Hoje eu leio menos jornal mas a qualidade do
que consumo é maior do que jamais fora. É maior do que qualquer jornal já foi
capaz de me oferecer. Não só por incompetência, mas por impossibilidade.
E se ao invés de qualidade de conteúdo eu buscasse apenas porcarias
superficiais, eu também seria melhor servido pela internet do que por um jornal.
A internet me daria um cardápio farto de porcarias personalizadas para meu
gosto. Para qualquer gosto. Nenhum jornal faz isso.
O
consumo de informação ficou personalizado e com isso os anunciantes foram
atrás. Porque o
anunciante precisa de anúncios direcionados ao público alvo. E a
internet é pródiga em coletar informações de cada leitor, fazendo com que
anúncios sejam eficientes e se tornam vendas. Vocês estão me acompanhando? Jornais sem controle
de distribuição viraram jornais sem o mesmo poder sobre leitores e anunciantes.
Viraram jornais sem a grana de outrora.
Eu sou um
homem de negócios. A minha visão é a de que jornais devem ser tratados como
negócio, assim como qualquer outro negócio. Já perdi as contas de quantas vezes
já discuti com algum jornalista por causa disso. Jornalistas que culpam a
internet pelo empobrecimento da informação quando na verdade se ressentem da
migração dos leitores e anunciantes que a internet trouxe.
São muitos
os jornalistas – principalmente os que fizeram carreiras em jornais
tradicionais – que pensam ter um direito inalienável sobre o dinheiro dos
anunciantes. O discurso é de que jornais são pilares democráticos, que os
jornalistas são os bastiões da liberdade, que os jornais são garantia de boa
informação, que seus profissionais são vencedores de prêmio Esso, que blogs e
redes sociais só tem Fake News. Então por toda essa grandeza eles tem que ter funding.
Por todo essa superioridade de valor é uma grande catástrofe que jornais
estejam indo a falência e jornalistas estejam perdendo seus empregos.
Eu não
compro esse discurso. Até porque com todo o controle de distribuição que os jornais
tinham, o valor de um jornalista para o jornal era marginal. Como eu disse
antes, se o colunista esportivo fosse ruim eu não ia na banca comprar a coluna
de outra pessoa. E também não deixava de comprar o jornal. Muitas matérias de
baixo nível foram impressas sem impactar em um centavo a receita dos jornais.
Então essa é uma realidade que poucos jornalistas aceitam, a de que eles sequer
oferecem o melhor conteúdo.
Sem um grande conteúdo e sem personalização, os jornais perderam valor. Muitos faliram e muitos jornalistas ficaram desempregados. Os jornais da maneira que conhecemos vai acabar. Porque jornal é sim negócio, e o negócio mudou. Jornalistas vão ter que se ajustar à nova realidade. A realidade de um mercado aberto.
A internet
permite que os leitores determinem o valor de um jornalista. O rapaz que vivia
atrás do salário do jornal e publicava suas matérias medianas naquele calhamaço pode
agora abrir seu blog, escrever seu conteúdo, divulga-lo e deixar o mercado
precificar. E é esse conceito que apavora muitos jornalistas. A noção de que o
mercado vai determinar o seu valor é o pesadelo de quem se acomodou vivendo escondido
atrás de uma estrutura protegida.
Mas esse é um caminho sem volta. A indústria de notícias passa por rápidas transformações e os jornalistas vão ter que encarar seus pesadelos.
Inclusive muitos já
estão.
Stay cool,
Don Black
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