Ainda jovem eu meti na cabeça
de que iria morar em Nova York. Muitas coisas podem atrair um jovem para Nova
York e comigo certamente não foi diferente. Mas a principal razão é que eu não
fazia muita idéia do que eu queria fazer da vida. E se existe um bom lugar para ficar
sem saber o que fazer da vida é Nova York, já que você pode tentar basicamente qualquer
coisa. Então eu pedi demissão, aproveitei um mês de Brasil e peguei um vôo para a terra do Tio Sam.
Minha
primeira residência – se é que se pode chamar assim – foi um apartamento de uns
30m² que eu dividia com um quiroprata coreano e um músico canadense fã de Nat
King Cole. O lugar ficava a algumas quadras do Bryant Park, que naquela época
mais parecia cenário do filme “Os Viciados” em que Al Pacino interpreta um
pequeno traficante chamado Bob. Tudo muito diferente do Michael Corleone que eu
tinha em mente quando peguei o avião. Nem o submundo nova iorquino correspondia
às minhas expectativas.
Então é
justo dizer que sob muitos aspectos meus primeiros meses nos Estados Unidos
estiveram um pouco aquém do sonho americano. Não obstante, nada que me desanimasse.
Mas a medida que Novembro foi chegando, o inverno foi vindo junto e começou a levar
embora meu humor. Considerando que eu estava trabalhando de extra de Natal em
uma loja de brinquedos, meu mau humor tinha péssimo uso comercial. Então achei
por bem me esforçar para mudá-lo.
O coreano
seguia sua vida como se nada estivesse acontecendo. Acordava cedo, ia para o
bairro coreano estalar algumas costelas, voltava tarde e dormia. Nem comia em
casa. Já o canadense parecia especialmente feliz durante o inverno. E a cada vez
que ele sorria, mais irritado eu ficava. No meu esforço de mudar, perguntei para
ele como era possível que ele gostasse tanto do inverno. E com isso listei umas
20 coisas irritantes que só existiam no inverno.
Eu confesso
que achei que ele fosse falar da grana extra que ele fazia nos seus bicos na Broadway, mas ao invés disso ele respondeu:
“Ah, o
inverno pra mim é quando dá mais vontade de beber um vinho, comer um cordeiro, bater
um papo na lareira. É época de assistir futebol americano... O inverno é parte
da vida, como um ciclo. E eu aproveito o que tem de bom quando chega nessa
parte do ciclo porque daqui a pouco acaba e começa outra.”
Na verdade
aquilo fazia sentido. Sendo de Quebec, ele cresceu aprendendo a apreciar as
coisas boas que esse ciclo trazia. Mas não funcionava tão bem para alguém do Rio
de Janeiro cujo único ciclo era o contínuo ato de ir pra praia e fazer
churrasco em qualquer época do ano. Não havia como eu viver 4 meses naquela
infelicidade todo ano. Ou eu aprendia a apreciar os ciclos ou eu voltava para o
Brasil.
O que eu
fiz? Hoje eu comemoro a época do vinho, do cordeiro e da lareira. Definitivamente
eles não são os mesmos fora do inverno. E torço pros Giants, claro!
E sobre todas
as coisas chatas do inverno? Eu espero! Porque assim como o inverno chegou, o
verão também há de chegar. Então basta eu não fazer nenhuma estupidez no
inverno e sobreviver até lá.
Stay cool,
Don Black
x
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