Depois de um
ano e meio de obras e 45 milhões de reais gastos, a ciclovia da
Niemeyer foi inaugurada no Rio com algum alarde. A inauguração foi em janeiro
de 2016 e as autoridades aproveitavam os holofotes. Afinal, eles estavam
presenteando cariocas e turistas com a possibilidade de pedalar ou caminhar do
Leblon até São Conrado apreciando a paradisíaca paisagem da nova ciclovia. Três
meses depois, um trecho de 20 metros da ciclovia caiu após ser atingido por uma
forte onda, deixando mortos e feridos. Que uma onda pudesse atingir o local com
tamanha força foi um fato ignorado no projeto. Um erro que custou caro. É para
evitar situações como essa que existe o conceito de “Margem de Segurança”, uma margem dada para absorver os efeitos dos erros
de cálculo, má sorte e eventos extremos.
Tão comum
na engenharia (não na do Rio de Janeiro, infelizmente), o princípio da margem
de segurança viaja bem para o mundo dos investimentos e foi popularizado por
Ben Graham, mentor de Buffett, há quase 100 anos. Basicamente, a margem de segurança em investimentos é dada
pela distância entre preço e valor. Quanto maior essa distância, maior a
margem de segurança. E para nos auxiliar na diferença entre preço e valor, vou
recorrer a uma frase de Buffett que é brilhante em sua simplicidade:
“Preço é o que você
paga, valor é o que você recebe”
Mas enquanto
o preço é um dado concreto que pode ser visto em qualquer painel de cotações, o
valor vai exigir um pouco mais do investidor.
Cada
investidor tem a sua abordagem na hora de encontrar o valor de uma ação para,
então, aplicar a margem de segurança. Ben Graham, por exemplo, se apoiava nos
valores contábeis das demonstrações financeiras. Se uma empresa fosse negociada
pela metade do seu capital circulante, Graham se interessava. Pouco importava
se a empresa tinha bons números operacionais ou não. No limite, a empresa
valeria mais morta do que viva e portanto bastaria liquida-la e embolsar o lucro. Esse é um tipo de oportunidade que foi desaparecendo com o tempo mas,
ainda hoje, alguns investidores buscam determinar o valor de uma empresa pelo
que ela carrega em seu balanço. Outras pessoas buscam estimar o valor presente
do fluxo de caixa futuro da empresa, em um processo que pretendo ensinar
futuramente aqui no blog.
A dificuldade em se estimar o valor de uma
empresa vai se refletir na margem de segurança que o investidor vai exigir.
Startups, por exemplo, demandam uma margem de segurança maior do que empresas consolidadas
porque carregam mais incertezas nas estimativas de fluxo de caixa, crescimento
e margens. Alguns investidores vão além e tentam compensar todo tipo de
incerteza na margem de segurança. Essa é uma violação básica do Círculo de
Competência, discutido em post anterior. A
margem de segurança não existe para viabilizar investimentos fora do
círculo de competência. Muito pelo contrário, círculo de competência e
margem de segurança são conceitos que devem ser aplicados juntos para a obtenção
de retornos com preservação do principal.
O perigo em
se ignorar o círculo de competência é que mesmo uma grande margem de segurança
pode ser insuficiente quando temos uma estimativa completamente errada acerca
do valor do negócio. E a forma mais fácil de chegar em uma estimativa
completamente errada acerca do valor de um negócio é estimando um negócio fora
do círculo de competência. Para colocar em perspectiva, uma boa margem de
segurança de 40% não vai servir pra nada se sua estimativa for muito otimista.
Para finalizar, quero chamar atenção para o custo de se usar uma margem de
segurança exagerada. Se por um lado ela
vai evitar que o investidor compre ações que estão caras, por outro ela também
vai evitar que o investidor compre ações que estão baratas. Aprenda a calibrar
sua margem de segurança! Por mais importante que seja não tomar gol, ninguém entra em campo com dez zagueiros.
Stay cool,
Don Black
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