"É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante", Nietzsche
Ele tinha tentado ser negociante de arte, vendedor de livro,
professor e pastor. Sem sucesso.
Com cerca de 30 anos ele começou a desenhar. Começou do
início. Pegou o livro “Guia para o ABC do desenho” para aprender sozinho. E
começou a desenhar.
“De uma coisa eu tenho certeza. Você não é um artista”
Foram as palavras que ouviu do seu antigo chefe e
reconhecido nome no mundo da arte.
Com 33 anos entrou em uma escola de artes para iniciantes.
Seus colegas de classe tinham 20 anos. Ficou pouco tempo.
Jurados avaliaram seu trabalho durante uma competição e
recomendaram que fosse transferido para a turma inicial, com alunos de 10 anos
de idade.
Em casa, na própria companhia, pegou cavalete e tinta a
óleo. Não sabia muito de nada disso. Mas jogou cores na tela de pintura e
deixou sua imaginação guiar sua mão deixando o realismo de lado.
Mais tarde
escreveu para o irmão:
“Eu gosto tremendamente de fazer isso.”
E sozinho seguiu seu caminho de experimentações com a tela.
Acreditou na relação entre tons de cores e tons musicais. Por
isso foi aprender piano.
Ele ouvia Wagner e lia Victor Hugo.
E diante da tela pintava com ímpeto, com cor, sem
formalidade.
Pinceladas vigorosas, onduladas. Pinceladas inovadoras!
Seu nome é Vincent Willem van Gogh. Imortalizado.
***
"Toda criança é um artista. O problema é como continuar um artista depois que cresce.", Pablo Picasso
O investidor é como o artista. E como o artista, ele precisa experimentar e encontrar o seu estilo. Precisa buscar sua paleta, seus traços e seus tons. Precisa calçar seu próprio sapato e trilhar seu próprio caminho. Não existe um grande investidor que não possa ser visto como um artista. E isso nada tem a ver com o quanto de ciência está na sua tela. Jim Simons por exemplo é um artista absoluto. Um virtuose!
Existe influência e existe inspiração. Existiu um Picasso
encantado com Van Gogh e existiu um Warren Buffett correndo atrás de Benjamin
Graham. Mas cada um se encontrou na sua arte.
Eu acho importante dizer isso porque as vezes vejo a turma
dos investimentos como um exército de iguais. E a réplica, meus amigos, a
réplica tem pouco significado. Sob todos os aspectos. Não é a mesma emoção para
quem pinta e não é o mesmo valor para quem compra.
Uma receita de bolo, um passo a passo. Ou melhor ainda, apenas
o código da ação! Isso é como aquele livro infantil com vários pontos jogados
na página. Você liga os pontos e sai um desenho. Isso não é arte.
Pegue o livro de Valuation do Damodaran como Van Gogh pegou
o “Guia para o ABC do desenho”. Como um primeiro contato, um primeiro passo. Está
tudo bem se você fizer isso. Mas não faça disso sua identidade, como Van Gogh
não fez da dele.
Se sente de frente para seu canvas e faça seus rabiscos. Um
pincel, depois outro. Uma cor, depois outra. Livre e sem formalidades. Joga
fora o que não funciona e guarda o que funciona. Pega outro canvas e por aí vai.
Porque se você não fizer isso, não importa o quão talentoso
você seja, você vai ser o sujeito do “você poderia dar uma cor”, do “nossa
recomendação é neutra”, ou do “ainda não corrigi a prova”.
E essa é a diferença entre Van Gogh e Zhao Xiaoyong.
***
“In a wicked world, relying upon experience from a single domain is not only limiting, it can be disastrous.”,
Van Gogh morreu com 37 anos. Foi absolutamente produtivo
quando se encontrou na pintura. Mas se vocês bem estão lembrados ele ainda
estava aprendendo quando tinha lá seus 30 anos. Então tivesse Van Gogh morrido três anos antes e ninguém saberia dele.
O exemplo de Van Gogh eu tirei do livro “Range” de David
Epstein. É um livro provocador, que trata de como os generalistas triunfam em
ambientes dinâmicos. Ambientes de menos repetição, onde é difícil estabelecer
padrões.
O argumento é que generalistas tem um amplo leque de habilidades que em
conjunto conferem vantagem em ambientes dinâmicos. Mas para serem generalistas
essas pessoas precisam passar por diferentes experiências até finalmente se
encontrarem em uma área, o que pode levar tempo.
Ibrahimovic, habilidades de taekwondo no futebol |
Eu gosto do princípio. Acho que é alinhado com a idéia dos
modelos mentais de Munger. Buscar conhecimentos de áreas não relacionadas,
conectá-los e criar um efeito onde o todo é maior do que a soma das partes. A
diferença aqui é que generalistas vão além da teoria. Eles vivenciaram
diferentes práticas, práticas da vida real. É como se fossem os modelos mentais
em 3D.
Talvez um tenha um viés em relação a isso por que eu passei
alguns anos da minha vida pulando de galho em galho. Não muitos, mas alguns. E
tenho convicção de que o que aprendi nesses anos me ajudou ao longo da carreira
que segui.
Meu espaço amostral contudo não se limita a mim. Vários dos
melhores investidores que conheço tiveram experiências parecidas. Foram
empreendedores, atletas, jogadores de pôquer, se formaram em história, em
psicologia. E lá estão, transformando a integração das suas habilidades não-relacionadas
em retornos fantásticos.
E o melhor de tudo: quebrando a dinâmica das fábricas de
iguais.
Stay cool,
Don Black
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